Medo, dor e segredo
Iniciei a minha vida sexual tardiamente e minha mãe me orientava com
calma e abertura de diálogo: "Filha, quando você faz sexo, no dia seguinte
você poderá se preocupar com diversos problemas, desde gravidez indesejada até
infecção urinária e candidíase, HPV, HIV e mais outras DSTs. Já para os
homens, o sexo casual é mais ameno, pois não carregam consigo os mesmos
medos".
Agradeço até hoje pelo conselho, sei que ela estava querendo me instruir
para que eu pudesse aprender a me proteger, me cuidar e não esperar que o outr@
possa ajudar ou evitar uma responsabilidade que é só minha: cuidar e proteger
meu corpo.
Chatices como infecção urinária e candidíase ocorrem frequentemente
(embora não falemos sobre isso), desde uma bebê com fraldas, até uma senhora.
Independentemente se a vida sexual está ativa ou não.
Quando uma prima minha mais nova menstruou, aos 11 anos, me perguntou se
já podia começar a transar, dado que "agora era uma mulher".
Eu falei: "prima, você não conhece seu corpo ainda, e os meninos
provavelmente desconhecem o corpo das mulheres. Se você começar, não terá
desculpas para se livrar da prática. E aí? Quanto tempo - talvez anos - de sexo
ruim e dolorido você vai fazer, se expor a doenças, e outras preocupações, em troca
do que? A que custo?".
Me julguem, julguem a minha mãe também, não acredito que haja uma
resposta certa para estas questões.
Há uma infinidade de orientações que podemos passar para educar quem
amamos, importante haver abertura de diálogo e intenção de instruir. Era
o melhor que eu podia falar para minha prima, que me fez uma pergunta tão séria
e eu que queria responder com responsabilidade, pois me preocupo com a
felicidade dela.
Até hoje, muitas de nós, tratamos de ir frequentemente ao ginecologista
verificar nosso colo do útero, fazer testes de DSTs, gravidez, e ficar com o
coração na mão e noites sem dormir, preocupadas com os resultados.
Não podemos falar que estamos com uma dor animal ao urinar no trabalho
(pro chefe ou nosso funcionário) por uma suspeita de infecção urinária, ou quem
sabe que estamos com uma coceira insuportável e tememos alguma irritação ou
alergia a látex, ou uma desconcertante candidíase, como se
estivéssemos contando que não podemos ir ao trabalho por causa de uma febre
alta ou inflamação na garganta. Muitas vezes, as mulheres escondem até
mesmo de seus namorad@s ou espos@s os sintomas que estão sofrendo.
Para que você aprenda a falar sobre a sua saúde íntima, e se sinta menos
culpada, trago aqui depoimentos de pacientes e médicos, e estatísticas
estarrecedoras, no artigo:
A realidade da saúde íntima e o preocupante silêncio das mulheres
Se você é uma mulher que sofre com uma coceira vaginal ou uma secreção
incomum, é possível que você não conte isso para ninguém.
Talvez você não faça nada a respeito, apenas esperando que o problema
desapareça. Ou talvez você adquira um medicamento qualquer para evitar o
constrangimento de uma avaliação médica, preocupada com a possibilidade de ter
contraído uma doença sexualmente transmissível.
"Até hoje existe uma auto recriminação relacionada a infecções
genitais comuns e infecções sexualmente transmissíveis", afirma o Dr.
Phillip Hay, consultor honorário em saúde sexual do Hospital da Universidade
St. George, NHS Foundation Trust, em Londres.
Muitas pacientes que apresentam vaginose bacteriana, causa mais comum de
infecção vaginal nas mulheres em idade reprodutiva, sentem uma vergonha muito
grande. "A palavra que elas usam com frequência é 'suja'. Elas têm
vergonha do cheiro. Acho que elas falam mais sobre a candidíase vaginal. É um
termo usado para indicar qualquer secreção anormal.
“Nos casos mais graves, as mulheres evitam ter relações sexuais porque
acham que há algo terrivelmente errado com elas”, ele comenta. “Quando comecei
a realizar pesquisas sobre a vaginose bacteriana, recebi uma médica de vinte e
poucos anos que tinha os sintomas da doença. Por causa disso, ela nunca tinha
tido um relacionamento e passou por toda a faculdade de medicina sem descobrir
que era algo muito simples de lidar.”
"Muitas mulheres sofrem em silêncio por causa do constrangimento e
da vergonha que sentem em relação aos sintomas mais íntimos."
Os riscos do autodiagnóstico incorreto
A mulher que se preocupa com o que outros dizem pode manter um
sofrimento desnecessário por muito tempo, o que pode afetar sua autoestima e
suas relações. E qualquer atraso no tratamento ou um autodiagnóstico incorreto
pode, em alguns casos, ter um impacto muito grande na saúde dela.
Por exemplo, muitas mulheres confundem vaginose bacteriana com candidíase
vaginal. Mas estas são duas infecções distintas. Assim como a candidíase
vaginal, a vaginose bacteriana também é comum e pode ter consequências graves
se não for tratada.
Um estudo descobriu que a vaginose bacteriana aumenta o risco de aborto,
parto prematuro e complicações pós-parto, como endometrite e infecções. Uma
pesquisa divulgada no British Medical Journal revelou que a vaginose bacteriana
estava associada a um aumento no risco de aborto no primeiro trimestre em
mulheres submetidas à fertilização in vitro, sem considerar outros fatores de
risco.
“Sabemos que mulheres com vaginose bacteriana, tricomoníase (uma doença
sexualmente transmissível muito comum) e possivelmente candidíase vaginal,
apresentam taxas mais altas de nascimentos prematuros durante a gravidez”, diz
o Dr. Hay. "Além disso, mulheres com vaginose bacteriana também apresentam
taxas mais altas de infecções após cirurgias ginecológicas."
Os pesquisadores também descobriram que a vaginose bacteriana aumenta o
risco de mulheres contraírem HIV, além de outras infecções sexualmente
transmissíveis, incluindo gonorreia. A gonorreia pode causar a doença
inflamatória pélvica, que por sua vez pode deixar uma mulher estéril.
O estigma do câncer ginecológico
Uma a cada cinco mulheres associa os tipos de câncer ginecológico à
promiscuidade sexual.
Enquanto muitas mulheres estão mais dispostas a falar sobre o câncer de
mama, seja sobre a preocupação de encontrar um nódulo ou a experiência de
enfrentar a doença, poucas falam sobre os diferentes tipos de câncer
ginecológico, que incluem tumores de útero, ovário, colo do útero, vulva e
vagina.
Uma pesquisa realizada pela Eve Appeal, organização de pesquisa sobre
câncer ginecológico do Reino Unido, descobriu que uma a cada cinco
mulheres associa os tipos de câncer ginecológico à promiscuidade
sexual, enquanto 34% delas se sentiriam mais à vontade para falar
sobre problemas íntimos de saúde se o estigma que relaciona a saúde
ginecológica ao sexo fosse menor.
"Esse estigma impede as mulheres de buscarem o acompanhamento
médico que pode salvar vidas, sendo que 25% das participantes afirmaram que
preferem não falar com seus médicos sobre problemas de saúde ginecológica
porque não querem conversar sobre seu histórico sexual", afirma o relatório.
Mesmo assim, o câncer do colo de útero é o sétimo mais comum no mundo,
de acordo com o World Cancer Research Fund International, que afirma que 528
mil novos casos foram diagnosticados em 2012. Cerca de 270 mil mulheres
morreram como consequência da doença naquele ano, conforme a OMS.
Campanhas para Comunicação e Educação da População podem desmistificar a
Saúde Sexual da Mulher
Dr. Hay acredita que falar sobre a saúde íntima das mulheres é essencial
para erradicar esse estigma. "Acho que quanto mais pessoas entenderem sua
saúde e seus corpos, maior será a probabilidade de elas procurarem a ajuda
correta ou receber o tratamento correto".
Paulo Giraldo, professor de ginecologia na Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), concorda "Falar sobre a saúde íntima ajuda as
mulheres a entender a fisiologia do aparelho genital", ele afirma.
"Isso as ajuda a saber o que é normal e o que é uma doença.”
Essa compreensão pode resultar na busca por ajuda médica ou na própria
melhora da higiene íntima. Se as mulheres simplesmente não falarem sobre sua
saúde íntima, sempre haverá uma interpretação incorreta dos sintomas."
Vergonha, constrangimento e estigma. É fácil entender por que tantas
mulheres relutam em falar sobre sua saúde íntima. Mas as consequências dessa
relutância podem ser profundas. É hora de deixar o preconceito para
trás e iniciar um diálogo.
Fonte
www.canwelivebetter.bayer.com.br/saude/realidade-da-saude-intima-e-o-preocupante-silencio-das-mulheres?utm_medium=native&utm_source=Outbrain&utm_campaign=Brazil