Não sei se contou como sexo
Depois do
primeiro beijo o clima não esquentou, era o que Elvira pensava enquanto
percorriam a Rua Sorocaba em direção ao apartamento de Beto. Ainda assim, ficou
feliz por ter escolhido uma calcinha minimamente decente, estava pronta pro que
rolasse, mesmo sem estar tão empolgada. Não estava excitada com ele ou não
conseguia deixar de comparar com Daniel?, lhe ocorreu. De toda forma, nenhuma
comparação era justa.
Beto
também pensava em evitar comparações. Apesar de ter partido dele o convite para
que ela passasse a noite no seu apartamento, não conseguia deixar de pensar que
estava sendo um desfecho bem inesperado para aquele encontro em uma padaria.
Ainda bem que Guilherme tinha plantão naquela noite e que tinha criado coragem
pra raspar as bolas, ia matutando. Escrevendo aqueles contos eróticos ela devia
acabar tendo uma vida sexual bem ativa, devia ter pegado muitos caras com pau
grande, mas a ausência dos pelos bem que ajudava o seu a parecer um pouco
maior. Foda-se, era o pau que ele tinha, ia ter que servir.
Pensar na
recepção ao tamanho do seu pau fez com que Beto finalmente se desse conta de
que o relacionamento anterior ficava no passado. Daqui pra frente, existiria
sempre aquele medo de que não gostassem do seu corpo nu ou de que não soubesse
o que fazer para dar prazer a outra mulher que não fosse Nathalia. Lembrou-se
de como adoravam sexo anal e de como conseguia deixá-la excitada em poucos
segundos, o cu abrindo e fechando, começando a relaxar, enquanto ele circulava
um dedo carinhosamente na região. Era difícil imaginar que conseguiria aquilo
com qualquer pessoa, principalmente, que conseguiria isso em dois ou três
encontros. Teria saco pra esperar ou, pior, conseguiria ficar excitado tendo
que tirar o cu completamente do cardápio?
A chegada
no apartamento é mecânica. Beto não sabe bem onde pôr as mãos ou como se mexer,
mas Elvira senta no sofá e tira a sandália, como se repetisse um ritual
próprio. Levanta e para em frente a ele, como quem avisa que agora está pronta
para transar. Elvira tira calça e camiseta, Beto tira a calça. Deve ter
complexo com a barriga, ela tenta adivinhar. Beto percorre o seu corpo com as
mãos, de cima para baixo, e repousa as mãos sobre o seu sutiã, diz que gostou
dele (é muito bonito) e pergunta se podem continuar no quarto.
Ficam
nus, se abraçam, se esfregam, se apertam um contra ao outro. Elvira tenta fazer
roçar sua buceta no pau de Beto para ficar mais molhada e estimulá-lo ao mesmo
tempo, mas o rapaz sempre afasta o quadril na hora. Pode ser coincidência,
pensa, ou pode ser a outra coisa com a qual os homens não sabem lidar. É a
outra coisa. Beto não consegue ficar duro, disfarça, continua beijando e
esfregando e apertando. Elvira se pergunta se ele realmente acredita que dá pra
disfarçar.
“Posso te chupar?”, ele pergunta entre os beijos que dá na sua barriga.
Elvira
faz que sim com a cabeça. É um déjà vu, que bosta!, pensa enquanto fecha os
olhos e joga a cabeça pra trás.
Houve
esse cara com quem Elvira saiu algumas vezes, que era um tesão e um amor.
Adorava estar com ele, conversar, pegar, tudo. Mas o problema já começava
quando começavam a tirar a roupa, ele se recusava a tirar sequer a calça.
Insistia pra chupar. Ela nua, ele de calça jeans, ajoelhado de frente pra cama
do motel, até essa imagem a deprimia. Não se entendiam na cama, chupar era tudo
o que ele queria ou podia fazer, mas Elvira não tinha sido preparada para só
receber. Depois de anos de cultura cristã, nada era tão nítido na cabeça da
garota quanto a ideia de que nunca era só o venha a nós. Afinal, é dando que se
recebe, como dizia a oração de São Francisco, o santo carismático que gostava
dos passarinhos.
Nos
poucos encontros que tiveram, um roteiro se repetia. Ele começava a chupá-la e,
depois de uns bons 15 minutos perguntava se estava bom. Elvira então tentava
convencê-lo de que ela também queria chupá-lo. Ele negava, não queria tirar a
calça, explicava que adorava chupar, implorava para continuarem daquele jeito.
Ele gostava de fato, uma vez gozou enquanto a chupava, deixando a garota sem
qualquer ideia do que fazer. Agradecia? Talvez fosse a culpa, talvez fosse a
pressão excessiva que ele colocava no clitóris, Elvira simplesmente não
conseguia gozar. Nada mudava, nenhum dos dois ia pra frente.
Tenho que
relaxar, a voz interna da garota ordena, senão tudo vai ficar pior e nem ele
fica duro, nem eu consigo gozar.
Beto,
ainda de cueca box, se aproxima da sua buceta, mas começa lambendo a virilha e
a parte interna das coxas. Elvira tinha cócegas ali, se contrai um pouco e
levanta a cabeça para olhá-lo desaparecer entre suas pernas. Ele criava
expectativa, cheirava, roçava com a barba, brincava com o entorno. Era um
mestre naquela arte, ela soube imediatamente. Enquanto uma parte de Elvira
ficava animada com aquela solução para a noite (bom, não ia negar que estava
com um pouco de preguiça de transar), outra parte desconfiava que toda aquela
habilidade em oral, podia ser uma estimativa do quanto Beto já tinha brochado.
Ele chupa muito e tem dificuldade pra ficar de pau duro, ia ligando os pontos,
aposto que deve achar o pau pequeno.
A essa
altura já temia pelo futuro daquela relação, seria trágico se ele nunca
conseguisse ficar duro, mas, naquela noite, isso não era um problema, na
primeira lambida pode prever pelo menos o desfecho daquele encontro, algo na
cara que Beto fazia e nos dedos que circulava ao redor do seu cu dizia que o
gozo viria, talvez em pouquíssimos minutos.
Ela
segurava seus cabelos, enquanto ele se perdia entre suas pernas e lábios.
Estava nervoso, não era pra menos odiava quando o pau parecia ter vontade
própria ou falta dela. O foda era explicar que não era o nervosismo que causava
a brochada, mas que era aquele peru borrachudo que o deixava nervoso porque ele
queria, queria mesmo. Pensou em tentar bater uma punheta, dar uma pressão
naquele filho da puta, mas achou melhor relaxar e se dedicar primeiro ao prazer
dela. Logo que se aproximou da sua buceta, percebeu que estava realmente
nervoso, de um nervosismo diferente, tinha estado com medo de não gostar dela,
de simplesmente não saber lidar com a diferença. Quatro anos com a mesma mulher
e a gente realmente fica condicionado, né? se dava conta. Porém, ao encarar a
buceta raspadinha de Elvira — e ela ainda tinha feito aquele charminho de “não
me preparei pra isso” — até sentiu o sangue voltar a pulsar no pau. Era linda,
gordinha, constatava dando beijinhos e roçando a barba, e tinha um gosto suave,
descobriu quando deu a primeira lambida. A cada lambida, Beto redescobria o
quanto gostava de fazer aquilo a ponto de quase esquecer que a garota estava
ali. Despertava do torpor ao ouvir um gemido mais alto. O corpo de Elvira
estava travado quando começou, achou que ela era um pouco sensível demais,
sentia cócegas em algumas partes da coxa. Quando enfiou a língua entre os
grandes lábios, ela prendeu sua cabeça entre as coxas, alvoraçada, mas,
conforme avançava, a pressão das coxas diminuía. Agora as coxas formavam as
asas de uma borboleta e a buceta abria um pouco mais os lábios para deixar a
sua língua circular com mais facilidade. Era como um beijo de língua, não, era
como respirar embaixo d’água. De vez em quando, colocava um dedinho bobo bem
pertinho do cu dela para fazer uma sonda exploratória, se trancasse a bunda,
era um não, se relaxasse, era um sim. O cu de Elvira relaxava e se contraía,
bom, não parece um sinal muito claro, meditava.
“Será que
ele leu meu novo texto sobre anal?”, enquanto isso Elvira se perguntava
enquanto fingia que não reparava nas investidas. A pressão que fazia em seu
cabelo aumentou um pouco, seu corpo começou a ondular pela cama, ele continuava
chupando enquanto o gemido se tornava mais alto. Gozou e prendeu a cabeça dele
novamente entre as pernas, dessa vez para avisar que era hora de parar, deixou
ele preso naquela chave de perna por alguns segundos, enquanto afagava a sua
cabeça como se fosse um animalzinho querido.
“Chupa
muito, hein?”, ela disse rindo.
“Chupa
muito, hein, lek?”, ele repetiu a frase exagerando no sotaque carioca. “Que
escrota”, completou levantando e dando um beijo lambuzado de buceta na boca de
Elvira.
“Eu não
falei assim”, Elvira disse antes de receber o beijo. “Foi só um elogio
sincero”, respondeu girando na cama para ficar em cima dele.
“Agora eu
posso retribuir?”, lhe ocorreu de perguntar antes de tentar tirar a cueca dele.
“Claro”,
Beto respondeu se esticando na cama e colocando os braços atrás da cabeça.
Elvira
achou que parecia um bom sinal, o rapaz anterior não a deixava nem chegar
perto. Agora era saber se conseguiria deixá-lo duro.
Mais
tarde naquela noite, Elvira comentaria que tinha conseguido fazer uma coisa que
sempre via nos pornôs quando começou a chupar o pau mole. “Sabe, quando a
mulher coloca o pau na boca e consegue lamber as bolas ao mesmo tempo?”,
perguntou.
“Sei”,
Beto respondeu rindo. “Quando você fez eu fiquei me perguntando ELA TÁ
REALMENTE FAZENDO ISSO?”
Riram.
“Você é muito safada”, Beto soltou. “Posso te chupar de novo?”
Com a
cabeça dele entre suas pernas, Elvira pensou que, afinal, estava aprendendo a
receber.
Este
trecho faz parte do livro "Oi, sumido" que estou publicando no Medium e no
Wattpad enquanto escrevo. Oi, sumido conta a história da série de encontros
românticos e transas memoráveis entre Elvira e Beto, que foram interrompidas
pelo sumiço inesperado do rapaz no WhatsApp. O fim abrupto, no entanto, é o
início de uma saga, para Elvira, de descoberta de palavras, sentimentos
confusos e vulnerabilidades. Sem se contentar com o sofrimento silencioso do
abandono digital, a jovem decide aceitar o papel de louca que lhe sobra na
história.